quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Globalização Imaginada

Aline Riccioppo

2007

Quando falamos das relações interculturalidade entre a América Latina, a Europa e os Estados Unidos devemos levar em conta os acordos verificados nas décadas de 80 e 90 além das colonizações e migrações de cada uma dessas regiões. Os filhos e netos das sociedades latino americanas de hoje são formados pelas migrações européias que foram causadas pelas ditaduras militares de 70 e 80, pelo empobrecimento econômico e pelo desemprego.

Entre as migrações latinas e européias encontra-se os Estados Unidos, e os países latinos, que realizaram tratados de livre comércio nos anos 90, esforçam-se para não tornar suas relações econômica exclusivas dos norte americanos.

As interações entre essas regiões serão analisadas em suas estruturas, a partir do sentido sociocultural das migrações, das concepções do mercado e da interculturalidade, das identidades na globalização e das políticas culturais.

Migrações de ontem e de hoje

As migrações do século XX fizeram do nomadismo um hábito entre os povos, e fica necessário destacar o que cada sistema migratório representou para a formação cultural das regiões. Como por exemplo o sonho americano dos europeus se consolidou no American Dream e o que acontece quando altera-se o referencial cultural de um país ou de uma região?
Atualmente destacam-se três sistemas migratórios no mundo todo: a migração de instalação definitiva ou de povoação, a migração temporária por motivo de trabalho e a migração de instalação, variável entre as duas anteriores, destacando-se ultimamente as de caráter provisório, com vistos de curta duração relativos a política de cada país. Os países mais procurados costumam conceder nacionalidade a um número restrito de estrangeiros, além de afetarem seus direitos tornando mais complicadas as interações sejam elas de caráter cultural ou empregatícias. Essas tendências variam conforme o país destino e a qualificação dos imigrantes; evidentemente que essas relações variam conforme a posição social dessas pessoas.
Apesar das dificuldades encontradas, por outro lado, mediante os avanços comunicacionais do mundo globalizado fica ai facilitada a comunicação posterior entre o migrante e seu país de origem. Jornais do mundo todo podem ser facilmente acessados em qualquer parte do planeta, não causando assim movimentos isolados.

Para notar a diferença entre as migrações do passado e as atuais vale destacar a mudança no sentido das viagens observado na segunda metade do século XX. Os espanhóis por exemplo migraram em maior quantidade para outros países da Europa do que para a América Latina, enquanto que estes últimos preferiram procurar por regiões da Europa.

Ao longo de toda a história, as relações entre América Latina e Europa não detiveram-se a processos interculturais, mas também de caráter mercantil. O intercâmbio com os Estados Unidos principalmente levou sempre em conta um caráter econômico como a valorização dos capitais norte americano e também do trabalho.

A transformação dos vínculos entre a América do Norte e a Europa criou uma certa polaridade entre as regiões e também alguns estereótipos, além de um certo preconceito aos latino-americanos que tem as emigrações dificultadas, diferentemente do que se observava no passado quando os países da América Latina tinham “um imenso território a povoar” e uma gama desenvolvimentista pela frente.

Por outro lado, enquanto as migrações foram dificultadas, a passagem de informações está a cada dia mais simples e impulsionada, levando para qualquer parte do mundo, mercadorias, capitais e mensagens da mídia.

Evidente que os discursos sempre são diferentes das realidades observadas, entretanto a modernidade não se propõe em momento alguma tratar todos como iguais. A concorrência e a discriminação profissional prevalece fazendo da interculturalidade um processo democrático e subordinado ao mercado de oportunidades.

Conflito de narrativas sobre as identidades

Observamos neste ponto as conseqüências das colonizações em relação a interculturalidade atual e a forma como certos jornalistas e historiadores as encaram no processo cultural das regiões que rotulam a identidade como oposta à globalização. Um conceito errôneo a medida que a circulação dos produtos e das pessoas consistem num processo que não pode ser descartado, mediante todo seu histórico econômico, político e social.

Para o binarismo maniquísta as diferenças entre as classes sociais são tão antigas quanto a existência de uma sociedade humana, mesmo que não fosse observada. Assim como as relações Europa- América não podem ser reduzidas a uma polaridade já que a cultura é um processo híbrido e complexo relativo aos costumes diferentes de cada povo que fundem-se em um só, como comum a todos, num processo globalizado.

As divergências entre Norte e Sul só vão acabar quando encerrar-se o discurso de paz maquiada, que coexiste ao processo das relações comerciais, o chamado encontro intercultural.

Enquanto a Europa sempre observou usas relações com a América Latina como a colonização de uma região indígena e atrasada no desenvolvimento, nossa visão sempre foi de um fascínio pelo vínculo necessário ao desenvolvimento e a racionalização dos povos, onde cada lado escolhe o que lhe parecer mais conveniente formando um espaço bem estruturado de relações e de passagem de informações. Um é fundamental a existência e ao desenvolvimento do outro, embora em parcelas diferentes.

Entre latinos e norte americanos as relações também nunca foram de parcimônia e de discurso semelhante, mas o confronto entre eles sempre serviu para construir um relato de violência e dominação dos povos do norte baseados nos estereótipos característicos. Do lado sul americano as identidades divergentes foram sempre observadas pelo fascínio americano pelo capital e a espiritualidade latina.
As interações entre as culturas latinas e norte americanas causaram uma diferenciação ideológica imensa mas com objetivos comuns, onde a América latina está se “americanizando”. Um claro exemplo disso é o tratado de livre comércio e as discussões sobre a criação da ALCA.

No discurso oficial mantém-se a política da boa vizinhança sob o domínio norte americano, que coloca os Estados Unidos como um país invulnerável a qualquer tipo de ameaça, ignorando as identidades interculturais. Como se qualquer que fosse a narrativa dependesse ainda da aprovação ou não dos norte americanos.

O espaço cultural latino-americano e os circuitos transnacionais

A confrontação dos dados das experiências com o narrativa mostram o quanto o imaginário é capaz de alterar uma concepção histórica. A globalização e a concepções de identidade exigem um conhecimento maior, um estudo aprofundado sobre as características migratórias e as identidades culturais de cada região.

Na verdade as mudanças comerciais e midiáticas promovidas pela Europa, América Latina e Estados Unidos foram muito poucas. O que mudou de fato foi a relação entre o discurso e a prática, entre a história e o fato.

No entanto os investimentos nos países de “primeiro e de terceiro mundo” são reais, colaborando para a globalização e para um compreendimento real e global do processo histórico que compõe a interculturalidade. O fluxo de capitais e de informações leva ao questionamento do que chamamos de cultura própria, cuja resposta depende de uma caracterização da identidade cultural e das produções conjuntas.

Cada região tem sua complexidade cultural peculiar não podendo ser compreendida como um todo, mas a heterogeneidade de cada uma dessas regiões leva a criação de espaços comuns de livre diálogo levando a uma reconstrução da América Latina. Os intercâmbios tecnológicos, econômicos e migratórios estão alterando as relações socioeconômicas assim como suas narrativas.

A mídia pode ser observada como grande fator de interculturalidade quando expande suas transmissões, aumenta seu alcance comunicacional e promove a interação entre os continentes, assim como ocorre com a industrialização, que também contribui para a interligação entre os povos. A promoção da multiculturalidade das massas leva a criação de espaços comuns, espaços globais.





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